quarta-feira, 22 de abril de 2015

Sobre tudo o que eu consigo pensar (e viver) no momento.

Eu tentei.
Eu juro que tentei.
Dei outros beijos
Provei novos gostos
E até gostei de outro alguém
Mas foi tudo a curto prazo.
Nada me cativa tanto assim
E quando cativa não dá certo.
E o peso do mundo nunca saiu de meus ombros.
Antes de você as coisas já não tinham muito sentido
E depois de você tudo ficou escuro.
Escuro e só.
Parece que tudo que faço
É uma volta até isso:
Breu e solidão.
Acho que não sei mais confiar
Nem acreditar, esperar ou amar.
De tanto sentir tanto
Acho que acabei parando
O mundo contribuíu para isso.
Virei robô
E deu curto circuito em mim
Piloto automático ligado
Pois talvez não haja mais jeito
Para alguém tão desacreditado assim.

terça-feira, 14 de abril de 2015

M.

Deita entre meu ombro e meu peito daquele jeito que cê disse tanto gostar, e joga as suas pernas em cima das minhas. Fecha os olhos e escuta Arctic Monkeys comigo. Diz que baita banda ela é e que quer continuar ouvindo. Me pede um cafuné. Depois conhece mais da minha banda favorita, procura assistir os episódios da minha série predileta, leia os livros que eu gostei tanto de ler, adentra mais um pouco o meu mundo e abre um pouco mais do seu para mim. Vamos ver se nos encaixamos, combinamos, nos gostamos e vamos ver se vamos ter algo tão melhor do que amor ou amizade, afeto ou familiaridade, algo que ainda não tenha nome ou classe. Uma parada bem mais legal... Mas só amanhã. Hoje deita aqui perto de mim, fazendo círculos com a ponta do dedo na minha barriga e depois me abraça como der. Afunda teu rosto no meu pescoço e se embriaga do teu próprio cheiro que ficou em mim. Esquece o celular, o pai, a mãe, a saída do final de semana, os amigos, a esperança. Não pensa em nada que não seja aquele momento ali. Limpa a tua alma de qualquer coisa que não seja a beleza do escuro do teu quarto e do conforto da tua cama junto a mim. Não faz nada, só fica comigo assim, como aquele primero dia em que te vi. Sejamos infinito antes de sermos fim.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Sobre a morte da esperança.

É sempre um abismo seguir por um precipício chamado esperança. A esperança te faz caminhar por desertos cheios de dunas perigosas, navegar por oceanos repletos de tempestades e tubarões, correr em meio a um furacão. Tudo com uma pequena chama dentro de você de que você nunca vai se ferir, ou que pelo menos no fim não será nada grave. Que a kriptonita do seu Super Homem ou Mulher Maravilha está bem longe, mas no fim você sempre cai. Pois se tem uma coisa certa na esperança, essa coisa é a queda. E ao invés de ser rápida e quase indolor, ela é lenta. Ela te faz flutuar em meio a devaneios, em volta da loucura, dentro dos seus piores receios, para no fim, você cair morto. Morto, estatelado, duro e frio no chão. A esperança nunca mudou as coisas porque ela é só uma desculpa pra fingir que nada é tão ruim assim. Mas quase sempre é. A esperança não salva ninguém pois ela é sempre a última a levar o pé na bunda para que o pé que ela nos dê seja fatal.
Que a esperança então, seja artigo em falta no meu peito já que ela nunca mudou ou adiantou nada.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Perdendo e encontrando isqueiros.

Eu vivo perdendo isqueiros assim como vivo perdendo oportunidades. Eu vivo perdendo coisas. Na verdade não sei se algum dia as tive de fato, mas o fato é que eu vivo perdendo coisas. Por mim, pelas pessoas, pela vida. Eu não aguento mais esse jogo de perder.

Tento ler um livro ou ver tv mas a necessidade me invade feito o ar que entra em meus pulmões e então eu preciso intoxicá-los com fumaça de tabaco. Sentir aquele êxtase amargo (que no fundo me faz mal, eu sei) tranqüilizando minhas veias. Me levanto abruptamente e coloco um jeans surrado, um casaco preto qualquer, pego as chaves e coloco meus cigarros no bolso do jeans. Vou atrás de outro isqueiro.
Choveu mais cedo e o céu se mistura em cinza e preto. Está anoitecendo e o vento frio corta minha pele através do casaco fino. Desço a esquina olhando ao redor pensando em como fui parar ali, como eu tinha me tornado aquilo em que me tornei: um fracasso, se. Eu tentei fazer tudo certo. Mas o que é o certo é o errado? Não sabia exatamente a resposta mas me lamentava de todas as formas: profissional, familiar e amorosamente. Não queria, mas as vezes acho que sou quase digna de pena.

Todos os bares  ao redor estão fechados e eu tenho que andar até o próximo quarteirão. Anoiteceu.

Acho que faz tempo que anoiteceu em mim também, não sei. Talvez eu seja um céu todo preto que, vezenquando, consegue obter algumas estrelas para iluminá-lo. Só não sei mais se consigo obtê-las novamente
Avisto ao longe uma banca de jornal quase fechando e compro meu bendito isqueiro. Caminho uns passos e já posso sentir as gotas da tempestade que está vindo aí de novo começarem a cair. Acendo meu cigarro e logo na primeira tragada é como se todos os ligamentos do meu corpo estivessem se acalmando numa paz explodida em milhões de pequenos pedaços de fogo. Começa a chover e ao invés de ir para casa, me pego perambulando pelo bairro. Avisto as casas trancadas, os estabelecimentos fechando, as ruas vazias, e penso que aquilo tudo se parece muito comigo: cheias de pessoas que nem ligam muito para elas durante o dia e completamente solitárias durante a noite (com a exceção de que eu acabo só até durante o dia). O temporal despenca e eu corro atrás de algo que possa me proteger, e percebo o quão inútil isso é, afinal, quem está na chuva é para se molhar. Não é o que dizem por aí?

Sento em uma escada na porta de um lugar qualquer e fico ali, fumando aquele único cigarro enquanto sinto o maço inteiro se desmanchar no meu bolso. Tirei o capuz da cabeça e fiquei ali pensando, até que por fim, chorei a dor que por muito tempo estava contida em mim. Deixei a água descer pelo meu rosto e logo pelo meu corpo misturando-se com minhas lágrimas, me encharcando por inteira.

Pensei na grande bosta que está minha vida e no quanto preciso mudar isso. E fiquei ali, não sei por quanto tempo, mas tempo suficiente para a chuva passar. Levantei decidida a me reinventar por completo. As coisas deveriam e tinham de mudar.
Eu vivo perdendo coisas, mas às vezes, a vida te faz achar coisas também e a certeza disso, é o isqueiro velho que achei no bolso do casaco preto no momento em que enfiei as minhas mãos lá. Ás vezes demora tempo demais para a gente entender as coisas em apenas um segundo, e eu entendi que eu preciso mudar pra viver em paz.

 Acendi meu novo isqueiro. Minha nova certeza.