quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Não me deixa saber.

Não me deixe saber sobre o que você faz.

Não me deixe saber sobre as promessas que conta, sobre as não juras encardidas que despeja. Não me deixe saber se alguém passear pela sua cama. Não me deixe saber sobre mãos sujas que podem passear pelo o teu corpo. Não me deixe saber de outras salivas que vão de encontro a tua boca. Não me deixa saber para quem você também anda contando seus sonhos. Não me deixa saber pra quem você conta suas teorias mirabolantes sobre a vida. Não me deixa saber com quem você também fala na madrugada. Não me deixa saber sobre quem você põe os olhos na rua. Não me deixa saber sobre o seu desejo por outréns. Não me deixe saber se já não mais me quer (mesmo que quando chegar a hora eu talvez já saiba). Não me deixa saber que não sou a melhor vista dos teus olhos, nem a melhor fala da tua boca. Não me deixa saber que não sou a melhor encontrou. Não me deixa saber sobre quem já desejou. Não me deixa saber sobre o rosto mais bonito ou a foda mais boa. Não me deixa saber o que de ruim pode vir. Não me deixa saber nada além de mim pra ti. Não me deixa saber (mesmo que eu talvez já saiba).

Sobre o futuro que eu queria estar vivendo agora.

Se a vida fosse justa você depois do trabalho passaria em minha casa e eu estaria acabando de transar com você agora. Depois de enchermos a cara e de deitar e rolar por horas, vestiria minha calcinha box e meu moletom preto do Arctic Monkeys e só, depois iria para sacada do meu velho apartamento num sobrado no centro da cidade. Meus cabelos curtos pós sexo voariam junto com a brisa fresca da madrugada, eu acenderia meu velho malrboro vermelho e observaria a rua deserta iluminada somente com a luz amarela dos postes da cidade. Daria longas tragadas apreciando cada partícula do gosto daquele tabaco para depois então observar sua fumaça abandonando minha boca e indo fazer sua dança com o vento. Estaria em paz numa tranqüilidade longínqua enquanto você está lá deitada nua em minha cama depois de ter gozado o quanto quis. Eu apoiaria o pé direito na perna esquerda e me debruçaria sobre o ferro preto da sacada olhando o céu estrelado enquanto uma coruja passa. Lá embaixo, jovens bêbados passam rindo solto e quebrando garrafas de vodka nas calçadas, eu sorriria de lado e manearia a cabeça negativamente pensando "jovens" e depois pensaria em quando fiquei tão velha.  Mas será que eu estava velha afinal? Talvez não seja uma questão de idade, talvez seja uma questão de mente, os talvezes são muitos em minha memória, desde que eu consigo me lembrar em ementando por gente. Terminaria o primeiro cigarro enquanto pensava nisso, para logo acender outro em seguida. Eu pensaria no que eu fiz com a minha vida até o presente momento e sorriria de lado. Não foi nenhum exemplo eu sei, pelo contrário, foi uma bagunça total, mas estaria bem afinal, eu sempre preferi ter paz do que ter razão. Nesse momento você me abraçaria, - ainda nua - por trás e diria "vem que eu ainda quero mais" e sacana que sou, sorriria de lado jogando meu charme e depois de dar uma ultima tragada nesse outro cigarro - que já quase queimava meus dedos - viraria pra você. "Vem que a gente faz" você me ouviria dizer, eu daria uma golada na garrafa de cerveja que estava na mesinha ao lado enquanto você me puxa pela mão de volta ao nosso ninho, eu estaria pronta pra te fazer gemer outras vezes.

Mas a vida não é justa e eu to aqui escrevendo sobre as coisas que eu gostaria de viver com você, sem  saber se você quer.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Um pouco mais de alguém.

A velha vitrola no canto da sala toca ecoando a voz inconfundível de Billie Holliday pela casa escura e eu me pego pensando em você. Me pergunto se algum dia você seria do tipo que dança blues de pijama e meais, arrastando os pés pelo assoalho ao lado de alguém, apenas apreciando os momentos simples que a vida dá sem se preocupar se aquela seria uma nova vítima dos seus desejos e anseios ou o amor da sua vida, que você nunca vai chegar a falar. Me pergunto se você seria capaz de aproveitar uma noite de luar, ótima música e uma boa companhia. Talvez. Às vezes acho você simples, um oito ou oitenta que poderia muito bem aproveitar esse tipo de coisa. Às vezes acho que você pensa demais.
Mas quer saber mesmo o que eu acho? Acho que você é uma viagem de estrada daquelas que a gente não pretendia fazer. Ou talvez sempre tenha pretendido. É daquele tipo de aventura que a gente sempre quis viver sem se importar muito com os ralados no joelho e o corte no supercílio, que podem ocorrer. Você também é daquele tipo de pessoa que a gente encontra na beira da estrada, que é sarcástica e tem a boca suja como você, e além de tudo ainda entende as suas piadas. Você é uma canção de indie da minha banda preferida, é o emaranhado no coração ou no corpo de muitos outros, é o paradoxo enigmático de uma viagem de estrada louca, é o solo de guitarra de uma música de blues - ou seria de rock? Ainda não sei a sua pegada. Tu és quem seduz sem perceber até que alguém diga "tire tudo de mim", e você tira. Ou tira o quer. É cabelos aos vento, - e não importa se sejam lisos ou encaracolados embora os lisos sempre fazem bater forte o coração - é jaqueta de couro com algum adesivo colado, produto de alguma festa em que você encheu a cara mesmo sem poder. Você é coleções de remédios e confusões de cabeça, é companhia cheia de solidões, é furacões na vida de alguém e é a própria tempestade também. Você não liga muito pra nada, até passar a ligar e querer fugir, correr, cometer os mesmo erros e acertos e voltar pra qualquer cama errada. Você faz a sua lei e é por isso que é sempre caçada pelos xerifes das cidades e camas que frequenta, porque você sabe: não tem graça ser fora da lei sozinho. Você é poesia, é boêmia que também tem dor, é algo gostoso quando se permite em meio a bebedeira chamar alguém de amor, é um abraço bom e apertado que quebra colunas, é sorriso mesmo quando diz que não acha graça nas piadas. É alguém que sabe ser extremamente leve mas que às vezes insiste em ser pesada, é gritaria e sussurro, é sacana e algumas vezes absurdo. Você é uma fã louca de Nietzsche que tem um lado doce que quase ninguém vê e um amargo que transborda, o que você não sabe é que eu só fumo por causa do gosto amargo que o cigarro deixa do meu paladar aos meus dedos. É por isso que a gente funciona bem, ou não funciona nada. A graça pra você é sempre descobrir. E pra mim também, a graça é se deixar levar pra saber aonde vamos parar.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Quando não sei o que sinto por sentir tanta coisa em mim.

palavras em vão
pensamentos voam com o vento
e a loucura a qualquer momento
pode submergir
e ir até os confins
do fundo do poço dentro de mim

não sei por onde começar
nem onde terminar
eu apenas vivo destranbelhada
até a próxima pedra,
até o próximo passo
próximo cansaço
e o próximo maço
só sei viver até o próximo tombo pelo caminho,
até o próximo erro
e a próxima vontade de perder o medo,
até a próxima batida errática do coração.

confusão, ilusão, vontade.
parada.
perplexa.
inutilidade.

a insuficiência as vezes fala por mim
e eu não sei o que fazer do momento do adeus ao enfim
há um bocado de coisa aqui dentro do peito
que eu não sei como descrever.
mas tento
e eu preciso falar
ainda que eu não tenha quem escutar

solidão.
dor ao chão.

há um aperto aqui dentro
e fora de mim
na confusão que é ser eu
tento não ser tão desgraçada assim.