quarta-feira, 16 de setembro de 2020

ainda lembro.

eu buscava poesia em todo lugar, até que você me apareceu. eu buscava sentir o coração cheio de outra coisa que não fosse nada, até que você me encontrou. perdida naquele lugar, tentando fazer graça, lutando na raça por qualquer coisa que fosse, algo para me sentir viva. eu buscava me encontrar e tudo o que fiz foi me perder. me perdi nos cachos de cazuza das tuas músicas, nas ruas chiques e aconchegantes do leblon, nos museus da cidade, nas tuas palavras que se enlaçavam em mim feito corda enfeitaçada, repleta de feitiços para me encantar. e eu acreditei nelas. nas tuas rimas ritmadas, na tua confusão sonolenta de manhã ao acordar cedo, nos choros loucos de ciúmes bobos sem sentido, nas mãos entrelaçadas em segredo, nos beijos dados em uma surpresa que no fundo era esperada, no jeito bobo em que eu ficava sempre que em ti pensava. eu acreditei, eu realmente acreditei. mas assim como uma brisa fresca de verão, um sonho doce de inverno, uma música leve de outono e uma poesia inspiradora de primavera, como veio você se foi: de repente. e eu fiquei em frangalhos. em cima de uma cobertura de madrugada foi onde eu descobri como era perder algo que você sempre esperou e desde então eu nunca mais fui a mesma.

mesmo agora anos depois, você que não sentiu o mesmo já se esqueceu de tudo e eu vira e mexe nas brechas do tempo me pego pensando no amor jovem que a gente viveu. 

não sei como está sua vida, nem sei por onde anda agora mas espero que saiba que mesmo de longe e nunca mais pra ti aparecendo, eu ainda me lembro e te mando muito amor.

obrigada por tudo de bom que me fizestes sentir, que sejas feliz minha flor.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

forasteiro

caminhei por milhas
conheci vários rostos
percorri alguns corpos
provei diversos gostos

fiz e desfiz malas
enchi e esvaziei mochilas,
copos então nem se fala
vi tudo mudar de lugar

vi gente chegando e gente sumindo
causei algumas lágrimas e sorrisos
passeei por algumas camas
escrevi meu nome pelos muros

vi algo divino
e vi o inferno chegar
a fome me atingiu
e já matei a sede em  noites de luar

rodei por aí me perguntando
onde é que andará
o que há tanto me foi perdido,
tanto que nem sei mais se algum dia havia sequer existido

não sei se tenho para onde voltar,
talvez minha casa seja em qualquer lugar
onde finalmente eu possa achar
o meu tão perdido eu

forasteio por aí
procurando encontrar
o que tiver que ser meu.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

fogo poético.

talvez eu devesse devorar seu corpo enquanto desvendo a sua alma, talvez eu devesse caminhar pelas mais perversas - e secretas - curvas mapeando um caminho só meu por entre tuas entranhas, talvez eu devesse sentir o gosto que você tem na minha língua e então devorar-te uma vez mais só para sentir em minha boca o gosto do teu mel. talvez eu devesse entrelaçar nossas mãos como cordas de um juramento perpétuo e solene e entre suspiros sôfregos assinar um contrato que perpetua tua essência em mim. talvez eu devesse enroscar-me em tuas pernas enquanto ocupo-me de seu prazer, talvez eu devesse deixar os resquícios de nosso suor matar a sede um no outro, talvez eu devesse marcar tua pele como se fosse minha, talvez eu devesse te revirar do avesso de fora pra dentro, do teu ventre pra fora. talvez eu devesse no sentido mais literal da palavra te comer e saborear, talvez eu devesse então te idolatrar como uma musa dessas de cinema, talvez eu devesse beijar cada parte do teu corpo e por fim talvez, eu devesse conhecer teu fogo. e me queimar nele.