terça-feira, 21 de janeiro de 2020

forasteiro

caminhei por milhas
conheci vários rostos
percorri alguns corpos
provei diversos gostos

fiz e desfiz malas
enchi e esvaziei mochilas,
copos então nem se fala
vi tudo mudar de lugar

vi gente chegando e gente sumindo
causei algumas lágrimas e sorrisos
passeei por algumas camas
escrevi meu nome pelos muros

vi algo divino
e vi o inferno chegar
a fome me atingiu
e já matei a sede em  noites de luar

rodei por aí me perguntando
onde é que andará
o que há tanto me foi perdido,
tanto que nem sei mais se algum dia havia sequer existido

não sei se tenho para onde voltar,
talvez minha casa seja em qualquer lugar
onde finalmente eu possa achar
o meu tão perdido eu

forasteio por aí
procurando encontrar
o que tiver que ser meu.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

fogo poético.

talvez eu devesse devorar seu corpo enquanto desvendo a sua alma, talvez eu devesse caminhar pelas mais perversas - e secretas - curvas mapeando um caminho só meu por entre tuas entranhas, talvez eu devesse sentir o gosto que você tem na minha língua e então devorar-te uma vez mais só para sentir em minha boca o gosto do teu mel. talvez eu devesse entrelaçar nossas mãos como cordas de um juramento perpétuo e solene e entre suspiros sôfregos assinar um contrato que perpetua tua essência em mim. talvez eu devesse enroscar-me em tuas pernas enquanto ocupo-me de seu prazer, talvez eu devesse deixar os resquícios de nosso suor matar a sede um no outro, talvez eu devesse marcar tua pele como se fosse minha, talvez eu devesse te revirar do avesso de fora pra dentro, do teu ventre pra fora. talvez eu devesse no sentido mais literal da palavra te comer e saborear, talvez eu devesse então te idolatrar como uma musa dessas de cinema, talvez eu devesse beijar cada parte do teu corpo e por fim talvez, eu devesse conhecer teu fogo. e me queimar nele.