quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Em minha autopiedade.

É um fim de tarde lindo de céu azul e eu aqui ouvindo músicas tristes para combinar com o estado da minh'alma enquanto olho pro teto desejando ser outra pessoa, tudo me parece incerto e eu quero sair. Andar descalça, sentir meus pés na areia e observar a imensidão azul do mar na sua infinita beleza, sentir a brisa tocar meu rosto e desgrenhar ainda mais os meus cabelos. Eu quero suspirar pesado, inspirar fundo e sentir meus pulmões se preencherem com ar puro de novos ares, eu quero sair e me aventurar em um fim de tarde e no fim iniciar a noite em algum fast food, no entanto ainda estou deitada aqui, em um apartamento pequeno na zona sul da cidade desejando que qualquer coisa boa acontecesse comigo. Qualquer uma, inclusive a coragem.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Na madrugada de um pós feriado.

É incansável essa batida em meu peito que clama por verdades. E vontades. Que clama por chamas de um fogo com ideal feito aqueles atiçados com gasolina. Já não quero mais vazios, já não me contento mais com esmolas, eu quero o tudo e o nada do que podes me dar e quero mais além também. Eu quero tudo. Esse meu peito cansado já não ouve as batidas de corações vivos pela cidade adormecida. Tudo me parece morto e eu mais ainda. Mas eu quero viver! Quero viver ainda que no meu comodismo, ainda que no balanço da rede, ainda que me falte algo para matar a sede, ainda que toda errada e aos tropeços, ainda que verde e nada madura, eu quero é vida. Meus olhos vermelhos e cansados vêem a desilusão de um mundo que não quero viver. Eu sinto demais e quero demais para viver em um mundo de menos, sou profunda demais para algo tão raso. Minhas olheiras pesadas carregam o peso das sombras e de mil escombros das guerras que lutei. Lutei sem saber, sem querer, algumas sem vencer. Eu me sinto perdida em minha luz e escuridão, tecendo caminhos enrolados nas caraminholas de minha cabeça. Vivo encruzilhadas perdidas, tecendo feridas como arame farpado. Às vezes não há sinal de vida. Mas em contrapartida me ressuscito de minhas cinzas feito fênix esquecida, só me resta saber para onde vou. Sigo uma vida inteira buscando as respostas sem saber se as encontro, arrumo essa cela e nesse cavalo arisco que a vida é, eu monto. Ainda que depois me venham os tombos.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Para um dia especial de alguém especial.

Talvez eu tenha chegado um pouco atrasada mas você sabe, eu nunca andei muito na linha. To deixando a amargura de lado pra hipoteticamente te puxar e deitar tua cabeça no meu ombro enquanto a gente olha pro teto do quarto escuro e eu te falo umas coisas bonitas (pelo menos espero que sejam bonitas).
Na verdade eu não sei se eu tenho algo bonito em mim - talvez tenha, - mas você sempre enxergou. Enxergou talvez até mais do que qualquer outra pessoa e até hoje eu me pergunto como. Talvez a resposta seja esse teu lado doce e meigo assim como essa tua voz mansinha que nem quando tenta ficar brava consegue amedrontar, talvez seja tuas palavras sempre certeiras, talvez seja teu modo de olhar. E tu me olhou. Agradeço por isso. Eu te olhei também. Olhei teus cabelos ruivos que sempre foram a arma mais fácil de me conquistar, olhei teu delineado que me amarro, olhei teu piercing que acho cafona mas que em ti fica uma graça, olhei tuas unhas curtas e tuas mãos pequenas, olhei teus gestos e palavras gentis, olhei teu afeto, olhei teus dotes culinários, olhei o modo das nossas conversas rolar, olhei teu modo de agir, olhei tua perda de paciência, olhei tu se esvaindo de mim, olhei teus olhos pequenos, olhei teus amigos, olhei tua pequena embriaguez, olhei algumas coisas que gosta, olhei tua distância crescendo, olhei você olhar pra outro alguém. Olhei tudo e até o que eu odiei eu adorei olhar. Você não é daqui garota, tão diferentemente especial que a raça humana talvez não te mereça, nem mesmos tuas rabugices e erros. Tudo em ti fala mais. Então o que eu posso te desejar (mesmo atrasado)? Nada mais do que continuar ser quem tu és. Esse doce de menina que sabe ser agridoce quando quer. To afastando minha amargura e mágoa do peito enquanto hipoteticamente de faço um cafuné só pra te desejar todas as coisas boas do mundo. E que nada lhe falte. Talvez eu nunca fosse te merecer mas tá tudo bem, um dia eu vou ficar bem das dores do mundo. Espero sempre que você também.
Também espero que isso compense meus desgraçamentos baby, porque você sabe: eu nunca fui tão bem assim. E espero que isso seja melhor do que aquelas baboseiras que sempre desejam em dias assim. Espero ainda te ter por aqui por muito tempo e nunca se esqueça baby please, squeeze.

PS: te desejo todas aquelas coisas que te desejam em dias assim, sim. Você sempre merece.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Não me deixa saber.

Não me deixe saber sobre o que você faz.

Não me deixe saber sobre as promessas que conta, sobre as não juras encardidas que despeja. Não me deixe saber se alguém passear pela sua cama. Não me deixe saber sobre mãos sujas que podem passear pelo o teu corpo. Não me deixe saber de outras salivas que vão de encontro a tua boca. Não me deixa saber para quem você também anda contando seus sonhos. Não me deixa saber pra quem você conta suas teorias mirabolantes sobre a vida. Não me deixa saber com quem você também fala na madrugada. Não me deixa saber sobre quem você põe os olhos na rua. Não me deixa saber sobre o seu desejo por outréns. Não me deixe saber se já não mais me quer (mesmo que quando chegar a hora eu talvez já saiba). Não me deixa saber que não sou a melhor vista dos teus olhos, nem a melhor fala da tua boca. Não me deixa saber que não sou a melhor encontrou. Não me deixa saber sobre quem já desejou. Não me deixa saber sobre o rosto mais bonito ou a foda mais boa. Não me deixa saber o que de ruim pode vir. Não me deixa saber nada além de mim pra ti. Não me deixa saber (mesmo que eu talvez já saiba).

Sobre o futuro que eu queria estar vivendo agora.

Se a vida fosse justa você depois do trabalho passaria em minha casa e eu estaria acabando de transar com você agora. Depois de enchermos a cara e de deitar e rolar por horas, vestiria minha calcinha box e meu moletom preto do Arctic Monkeys e só, depois iria para sacada do meu velho apartamento num sobrado no centro da cidade. Meus cabelos curtos pós sexo voariam junto com a brisa fresca da madrugada, eu acenderia meu velho malrboro vermelho e observaria a rua deserta iluminada somente com a luz amarela dos postes da cidade. Daria longas tragadas apreciando cada partícula do gosto daquele tabaco para depois então observar sua fumaça abandonando minha boca e indo fazer sua dança com o vento. Estaria em paz numa tranqüilidade longínqua enquanto você está lá deitada nua em minha cama depois de ter gozado o quanto quis. Eu apoiaria o pé direito na perna esquerda e me debruçaria sobre o ferro preto da sacada olhando o céu estrelado enquanto uma coruja passa. Lá embaixo, jovens bêbados passam rindo solto e quebrando garrafas de vodka nas calçadas, eu sorriria de lado e manearia a cabeça negativamente pensando "jovens" e depois pensaria em quando fiquei tão velha.  Mas será que eu estava velha afinal? Talvez não seja uma questão de idade, talvez seja uma questão de mente, os talvezes são muitos em minha memória, desde que eu consigo me lembrar em ementando por gente. Terminaria o primeiro cigarro enquanto pensava nisso, para logo acender outro em seguida. Eu pensaria no que eu fiz com a minha vida até o presente momento e sorriria de lado. Não foi nenhum exemplo eu sei, pelo contrário, foi uma bagunça total, mas estaria bem afinal, eu sempre preferi ter paz do que ter razão. Nesse momento você me abraçaria, - ainda nua - por trás e diria "vem que eu ainda quero mais" e sacana que sou, sorriria de lado jogando meu charme e depois de dar uma ultima tragada nesse outro cigarro - que já quase queimava meus dedos - viraria pra você. "Vem que a gente faz" você me ouviria dizer, eu daria uma golada na garrafa de cerveja que estava na mesinha ao lado enquanto você me puxa pela mão de volta ao nosso ninho, eu estaria pronta pra te fazer gemer outras vezes.

Mas a vida não é justa e eu to aqui escrevendo sobre as coisas que eu gostaria de viver com você, sem  saber se você quer.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Um pouco mais de alguém.

A velha vitrola no canto da sala toca ecoando a voz inconfundível de Billie Holliday pela casa escura e eu me pego pensando em você. Me pergunto se algum dia você seria do tipo que dança blues de pijama e meais, arrastando os pés pelo assoalho ao lado de alguém, apenas apreciando os momentos simples que a vida dá sem se preocupar se aquela seria uma nova vítima dos seus desejos e anseios ou o amor da sua vida, que você nunca vai chegar a falar. Me pergunto se você seria capaz de aproveitar uma noite de luar, ótima música e uma boa companhia. Talvez. Às vezes acho você simples, um oito ou oitenta que poderia muito bem aproveitar esse tipo de coisa. Às vezes acho que você pensa demais.
Mas quer saber mesmo o que eu acho? Acho que você é uma viagem de estrada daquelas que a gente não pretendia fazer. Ou talvez sempre tenha pretendido. É daquele tipo de aventura que a gente sempre quis viver sem se importar muito com os ralados no joelho e o corte no supercílio, que podem ocorrer. Você também é daquele tipo de pessoa que a gente encontra na beira da estrada, que é sarcástica e tem a boca suja como você, e além de tudo ainda entende as suas piadas. Você é uma canção de indie da minha banda preferida, é o emaranhado no coração ou no corpo de muitos outros, é o paradoxo enigmático de uma viagem de estrada louca, é o solo de guitarra de uma música de blues - ou seria de rock? Ainda não sei a sua pegada. Tu és quem seduz sem perceber até que alguém diga "tire tudo de mim", e você tira. Ou tira o quer. É cabelos aos vento, - e não importa se sejam lisos ou encaracolados embora os lisos sempre fazem bater forte o coração - é jaqueta de couro com algum adesivo colado, produto de alguma festa em que você encheu a cara mesmo sem poder. Você é coleções de remédios e confusões de cabeça, é companhia cheia de solidões, é furacões na vida de alguém e é a própria tempestade também. Você não liga muito pra nada, até passar a ligar e querer fugir, correr, cometer os mesmo erros e acertos e voltar pra qualquer cama errada. Você faz a sua lei e é por isso que é sempre caçada pelos xerifes das cidades e camas que frequenta, porque você sabe: não tem graça ser fora da lei sozinho. Você é poesia, é boêmia que também tem dor, é algo gostoso quando se permite em meio a bebedeira chamar alguém de amor, é um abraço bom e apertado que quebra colunas, é sorriso mesmo quando diz que não acha graça nas piadas. É alguém que sabe ser extremamente leve mas que às vezes insiste em ser pesada, é gritaria e sussurro, é sacana e algumas vezes absurdo. Você é uma fã louca de Nietzsche que tem um lado doce que quase ninguém vê e um amargo que transborda, o que você não sabe é que eu só fumo por causa do gosto amargo que o cigarro deixa do meu paladar aos meus dedos. É por isso que a gente funciona bem, ou não funciona nada. A graça pra você é sempre descobrir. E pra mim também, a graça é se deixar levar pra saber aonde vamos parar.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Quando não sei o que sinto por sentir tanta coisa em mim.

palavras em vão
pensamentos voam com o vento
e a loucura a qualquer momento
pode submergir
e ir até os confins
do fundo do poço dentro de mim

não sei por onde começar
nem onde terminar
eu apenas vivo destranbelhada
até a próxima pedra,
até o próximo passo
próximo cansaço
e o próximo maço
só sei viver até o próximo tombo pelo caminho,
até o próximo erro
e a próxima vontade de perder o medo,
até a próxima batida errática do coração.

confusão, ilusão, vontade.
parada.
perplexa.
inutilidade.

a insuficiência as vezes fala por mim
e eu não sei o que fazer do momento do adeus ao enfim
há um bocado de coisa aqui dentro do peito
que eu não sei como descrever.
mas tento
e eu preciso falar
ainda que eu não tenha quem escutar

solidão.
dor ao chão.

há um aperto aqui dentro
e fora de mim
na confusão que é ser eu
tento não ser tão desgraçada assim.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Estado da Alma.

O peito pesa de uma forma inexplicável e os olhos querem desaguar em algum ombro que de certo queira ficar mas esse ombro nunca vem. Então fecho os olhos. respiro fundo, um passo depois do outro pela cidade adormecida, - é madrugada - então entro naquele cubículo escuro e desabo sozinha naquele pequeno apartamento no centro da cidade. Billie Holiday ecoa na velha vitrola no canto da sala enquanto acabo com todas as cervejas daquela geladeira velha. Deplorável. Olhos cansados, cheios de olheiras. Ouvidos vagantes a escutar o pequeno murmurinho da vida do lado de fora da minha janela. Lágrimas cansadas, peito reduzido a um grão de arroz, nariz e cerveja escorrendo. Deplorável ainda mais. Mas eu nunca tive muita sorte na vida e já devia estar acostumada. Ando aprendendo a abraçar a minha solidão mesmo que de certo ela ainda me doa. Ouço o som do saxofone na canção de algum blues de Billie e ele parece cantar minha melancolia, essa que parece estar impregnada em minhas veias. Nada muda. E talvez se não houvesse tanto medo e desilusão isso poderia mudar.
Cambaleio por aí esbarrando nos móveis como se fosse uma bola de pebolim e me sinto tão miserável. Trago um maço inteiro de cigarro e aceito minha condição de errante. Eu sempre sei o que quero até não saber mais, então nas raras vezes em que as pessoas não estragam tudo eu o faço. Complicado viver para quem carrega a sentença de quem não era nem para estar aqui já que ninguém isso nunca quis, afinal como poderiam? Talvez seja como eu já disse em algum outro desses meus dias angustiantes e eu realmente não mereça amor algum, nada, e fique sempre assim tão deslocada. Sobrevivo no meu pequeno cubículo escuro com minhas canções antigas e largada no mundo porque convenhamos, não há nada mais triste do que esperar algo que nunca virá e eu sei, nenhum afeto irá chegar, não pra ficar, e é por isso que eu vivo sempre assim tão largada no mundo.
As pessoas cansam de esperar algo de mim e eu já não quero esperar nada delas. Apago a luz e vou dormir. É sempre assim.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Constant Conversations.

Eu tenho conversado comigo mesma e a única certeza que eu tenho são as feridas que deixam em nosso coração. Ainda mais aquelas que não há motivo, aquelas que nunca se vão.

Faz um tempo frio agora no fim de abril e acho que em maio virá uma nevasca que jamais se viu. Eu me embrulho em um cobertor enquanto aquele velho blues toca na pequena vitrola da sala de estar e já não ouço mais os barulhos da rua lá fora. Já é madrugada, eu olho pro teto e olho pro chão, suspiro e constato: só sou mais uma bagunça com um nome. Abro a geladeira a noite inteira e pego algumas daquelas garrafas verdes de cerveja, às vezes me falam que beber não é muito legal mas se você não sabe para onde ir ou para onde as pessoas vão, não importa que o caminho gire um pouco. Às vezes é preciso girar e girar pra se encontrar. Ou perder. Perder-se. Achar-se. Talvez dê no mesmo. E sim, algumas coisas tem me machucado, outras eu já nem sei se me importo mais então sim, às vezes eu só quero dizer o que eles dizem e fazer o que eles fazem, ser mais uma comum inconsequente sem meus valores diferentes. Às vezes eu só chuto o pau da barraca da minha sanidade e mergulho na mais límpida boêmia mas isso não significará coisa nenhuma; Eu paro novamente e converso mais comigo: fale o que quiser, grite ou cante - qualquer canção, - e dane-se os vizinhos. O vento gelado veio por entre a janela batendo nas árvores e ele parece sussurrar um nome, usar um perfume, de um alguém que já não vejo há muito tempo. Sim, ele está cantando um alguém pelas folhas espalhadas pelo outono, talvez só porque eu talvez precise de alguém, eu também sei que um dia eu vá precisar de algum lugar para ir mas tem coisas que nunca se vão de mim. Agora estou em pé na cozinha com minha calça moletom cinza e uma blusa da minha banda preferida, apoiada na bancada pensando "mas que droga menina!"onde será que foram parar meus sonhos? Vinte segundos de coragem era preciso mas nem sempre a gente tem o que se precisa. Eu preciso de um monte de coisa. Você também, eu sei. Todos nós. Estou derramando minha bebida e pelo ralo da cozinha eu a vejo ir embora assim como sinto minha vida se esvair por entre minhas mãos, será que com todos é assim? Eu não quero sair da estrada por apenas alguns obstáculos no caminho, eu quero botar no papel, botar em minha pele todas as coisas que eu sinto e tomar o tempo que eu precise para finalmente saber aonde e como ir,

Eu tenho conversado comigo mesma e quanto mais eu falo mais eu vejo que não há quem se importe em escutar. E nessa conversa constante é que eu vejo que às vezes mais vale uns machucados injustos dentro de si para perceber que ninguém irá lhe ouvir melhor que você.


terça-feira, 29 de março de 2016

Comecei sem pretensão, acabei talvez pensando em alguém.

Deixa ser eu a pessoa que vai desenhar o próximo sorriso que você vai dar,
Deixa ser eu a pessoa que vai escrever as palavras certas para te encantar,
Deixa ser eu a próxima pessoa a traçar minhas mãos pelas linhas do teu corpo,
Deixa ser eu a próxima pessoa a encher teu peito oco

Com risos e manuscritos
Das formas exatas pra te conquistar,
Com tudo o que tenho,
Com tudo que você desejar.

Deixar ser eu quem vai te abanar
No calor do frio da cidade do Rio,
Deixa ser eu quem vai te dar
Os beijos corretos para te alimentar.

Deixa ser eu o seu cobertor,
Deixa ser eu o seu ventilador,
Deixa ser eu seu olhar ameno,
Deixa ser eu seu peito pequeno

Com traços firmes e sardas,
Com as roupas das melhores marcas,
Com seu cheiro enfeitando o ar,
Com o melhor gosto que eu puder provar.

Deixa ser eu o seu cabide
E deixa ser eu quem nunca divide,
Nada seu que eu possa chamar de meu,
Inclusive, exatamente, eu.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Salada de Frutas 2.0

Eu sinto falta das tuas palavras,
Dos teus textos rimados,
Das palavras bem colocadas
Que explica as linhas e entrelinhas do teu coração.

Sinto falta do doce do abacaxi que agora só tem me mostrado seus espinhos,
Sinto falta de não ser um bagaço feito tangerina,
Sinto falta de ser parte daquelas frutas que faziam parte do teu ninho,
Sinto falta de ser a quem você recorria.

A mangueira desaguou demais
E só ficou o azedo do limão perspicaz
Agora somos duas maçãs partidas no meio
Tão podres que ninguém quer mais

Mas você sempre foi mais bonita
E teus cabelos de ameixa também
Alguém te recuperou do chão
Me deixando sem ninguém

Só com caraminholas dando voltas
Em minha cabeça com cabelos de abacate
Virando um suco de mágoas
Tão confuso e sem vida feito um vinagre.

Fico feliz se encontrou sua outra metade da laranja
Mas não entendi porque mudar de jardim
Fiquei feito goiaba com seus parasitas sacanas
Te vendo partir assim

A uva que era tão verde voltou a ser vinho,
O pêssego já perdeu sua cor,
O caju foi roubando por aquele passarinho
E a sua salada de frutas azedou.

Não queria mas foi assim que ficou
E eu não sei se posso perdoar
A moça dos cabelos cor de caqui
Por me deixar sozinha aqui.

Acontece.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Noite de março e parte do céu se encontrando.

Eu queria tentar mostrar
Nesses versinhos
Simplezinhos
Que eu só queria alguém.

Alguém como Júpiter está sendo companhia para Lua
Nessa noite insone de março
Trazendo luz para um barco
Meio feio e furado

Não precisa ser amor,
Pode ser uma parada bem mais legal
Como segredos sussurrados no vento e planos que fazem rir,
Um blues ou indie tocando no momento

Sorrisos trocados,
Suspiros pesados
E a sensação de paz que dá
Quando a gente encontra alguém que ouve e dança a mesma música que você

Queria encontrar uma dessas também.
Júpiter e a Lua encontraram.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Eu poderia escrever um texto enorme sobre isso, mas eu gosto do simples e às vezes o simples explica bem.

Então... Me peguei pensando em você. De novo. Pra variar. E pensando em como eu queria um dia te encontrar na boêmia da zona sul e ter uma noite louca com você como naquele texto em que você me fez onde trocávamos pílulas azuis na saliva e numa tentativa de encontrar cigarros, nos amamos. Bem ali em uma escada de madeira numa casa qualquer. Eu ainda o tenho aqui. Eu o li de novo, inclusive. Queria que de vez em quando, você ainda escrevesse coisas assim para mim.

Tudo isso é só pra dizer: ah, que saudade de ser o motivo dos seus textos.

domingo, 6 de março de 2016

Blue Moon.

Ontem eu sonhei com você e já fazia tanto tempo... o que não mudou em nada o fato de que acordei sentindo falta de nós como sempre acontece quando contigo eu sonho. Eu vi teu sorriso tão nítido em minha frente, vi teus cabelos brilharem ao tocarem meu rosto, seu olhar feliz ao fazer o que gostava, seu rosto triste ao ter que fugir às pressas pro teu pai não ter que esperar, senti o gosto da tua boca, o paraíso perfeito pro meu infernal diário. Foi tudo tão nítido como se fosse real: são sempre assim meus sonhos com você e quando acordo, sempre me perguntando os por quês. Talvez eu seja uma porta que agora se encontrada fechada mas que você sempre bata porque no fundo nunca esquece o caminho para encontrá-la. E o fato é: não importa o que aconteça, eu sempre volto pra você porque eu sempre vou estar lá para você, assim como a falta que sinto de nós vezequando, ou no fundo quase sempre.
Eu achava que você era minha lua azul, e sempre me perguntei se eu não tinha deixado você ir cedo demais porque você foi o meu primeiro, o meu primeiro amor, aquelas três palavras, e eu não podia deixar de pensar, mas acontece que você nasceu sem amarras e sinto que nada que eu pudesse fazer te faria ficar, não naquele momento, um dia talvez. E eu me pergunto qual de nós está mais fodida e porque você teve - ou tem - tanto medo de ser feliz? Por que correu do que poderia ser? E quem se tornou mais insensível de algum jeito por causa dos seus traumas? Talvez algum dia a gente descubra as respostas, porque dúvida sobre ti já chega, eu já tenho de sobra.
Ontem eu sonhei com você e quando acordei - mesmo sorrindo - me perguntei o por quê. E me perguntei como você estaria, será que tinha talvez sonhado comigo também. Aliás, você sonha comigo? Acho que nunca vou saber essas e tantas outras coisas sobre você. Mas você sempre será o melhor mistério que eu vou ter.

Talvez você tenha sido a minha lua azul.

terça-feira, 1 de março de 2016

Terça-feira fria.

Às vezes você vê uma cena romântica de um casal em um filme antigo e só deseja que aquilo aconteça com você. Em um dia frio qualquer você se aquece dos pés a cabeça, pega suas chaves, veste seu gorro preto e sai, está anoitecendo, as luzes da cidade já começam a se acender e você para na cafeteria na próxima esquina e pega seu café, da um volta pelo bairro e na volta você atravessa a avenida com as mãos no bolso do seu casaco cor de pele com a cabeça meio baixa e deseja que ao olhar pro lado você encontre outro par de olhos que também estejam a te mirar e que naquela fração de segundos, aconteça um clique, um estalo mental que te faça perceber que você acabou de conhecer alguém que vai mudar a sua vida. Às vezes você ouve uma canção bonita e só queria estar abraçada a alguém num quarto escuro enquanto olham pro teto e compartilham um silêncio cheio de conversas, é  momento bonito pois vocês entendem o que aquela música está dizendo e sentem a vibe que ela consegue passar, vocês parecem sentir a mesma coisa. Às vezes você lê um livro e deseja ser o herói daquela mocinha (ou vice-versa) na aventura sobrenatural que eles estão vivendo página após página mesmo que você tenha um pouco de medo daquela história, para que sua vida tenha um pouco de ação e romantismo assim também, você não quer ser mais assim tão monótona. Às vezes você escreve textos numa madrugada solitária de terça-feira contando tudo isso, está frio e tudo o que você quer é às vezes poder estar abraçada a alguém.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Um Conto Sobre Marie.

Se você vivesse nos anos 70 caminharia feito uma bad girl de cinema porque é isso que você é, e com suas botas preta cano médio e sua calça, sua blusa e sua jaqueta de couro, tudo preto que é pra combinar com parte da sua alma, andaria até encontrar o próximo bar. Acenderia um cigarro que no canto da sua boca citaria vários poemas para as mais carentes almas. Você acharia e finalmente entraria no bar bem mais frequentado daquela cidade e pediria a dose mais forte de uísque que o lugar tiver, olharia o local metro por metro em busca de sua presa e não te importa se ela estará usando calças ou saias desde que você faça seu trabalho direito e tenha saído satisfeita. Você só quer dar e ter o prazer garantido, também não importa quantas camas virem furacões nem quantas tempestades num pingo d'água te façam por causa disso depois porque amanhã, você fará tudo de novo. Sempre amanhece e você sempre viaja com seu Cadillac preto para outro lugar, você só quer acordar no lado certo de qualquer cama errada. Você viaja milhas e milhas e conhece um novo e estiloso bar. Sua boca agora está encharcada de licor que escorrega e corre pelo vale entre teus seios e alguém por ali te mira. E te deseja. É bonitinho, você quer. Ele mexe em uma mecha de seus cabelos que vão até o fim de seu pescoço, ele sorri, quer te levar pra casa e ficar com você, está encantado. Ele quer construir família e apresentar para a mãe, quer casar com você. E você ri com desdém e acha graça do pobre coitado que acordará amanhã se perguntando aonde você está, por que não ficou com ele? O que ele tinha de errado? Nada. Até fodida bem, era cheiroso, tinha bom papo e era boa pinta mas você não se prende. Não é de nenhum lugar quem dirá de alguém. Você tem a liberdade de ser de todos que te quiserem, e que você quiser também. Mas você fica com ele e acontece o que você já previu. E aí você apenas veste sua roupa, compra um maço de cigarro novo e segue para a estrada sentindo o vento nos cabelos até a próxima parada que é um clube de blues ou bar rock'n'roll, vai ver são os dois. Você só entrou porque gostou do local. Sentou, chamou o garçom e agora sua boca tinha gosto de vinho. Do outro lado do salão uma moça lhe fita e ela daria tudo para experimentar tal gosto. O decote dela parece saltar em seus olhos e você a nota. Mais alguns passos e lá está você. Sentada ao seu lado, acendendo seu marlboro e contando casos de não-amores. Você ri das suas outras vítimas, faz delas uma piada para sua nova conquista que ri também sem saber que talvez ela será a próxima a entrar na história, porque é assim que você é: livre demais pra se prender. A moça no fundo sabe disso, ela conhece seu tipo mas é quase inevitável se manter longe do perigo que você é, então ela te leva para seu apartamento de solteira e lá vocês marcam a casa inteira. Um tempo depois estão suadas e ofegantes olhando pro teto, agora já na cama ambas pensando "uau". Vocês adormecem. O dia ainda nem amanheceu mas você desperta, o céu está escuro e as estrelas ainda brilham, deve ser cinco da manhã. Você olha a moça ressonar baixinho em seu ouvido deitada em seu ombro e pensa: "foi a melhor foda da minha vida"e cogita até ficar. Pensa uma, pensa duas, pensa três vezes como há muito tempo não pensou mas aí se lembra da promessa antiga que se fez: de sempre se colocar em primeiro lugar sem nunca deixar ninguém atrapalhar e se você não manter-se afastada de perigos como essa moça, você nunca mais vai conseguir isso. Então você a olha e sorri, dá um jeito de sair de seus braços, lhe dá um último beijo sem que ela acorde, se veste e finge esquecer sua jaqueta, sem deixar que a tal moça se quer imagine que você deixou mais do que isso por lá. Alguma parte sua ficou também. Você deixa um bilhete pedindo desculpas e promete voltar e talvez um dia você realmente volte. Quem sabe? Seu velho e bom carro à espera do lado de fora do portão do prédio e algumas horas depois lá estava você: em outro lugar, outro destino, tomando pílulas coloridas que te fazem suar e ver o mundo em cores intensas, você não se importa em viver uma vida louca agora. Você não se preocupa porque leva a vida que quer viver mesmo que às vezes e só às vezes, você queira trocar de lugar com alguém e não ser mais assim tão só.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Eu já cheguei a achar que iria encontrar o amor da minha vida. Eu já cheguei a achar que não merecia ninguém. Eu já cheguei no meu auge de sentimentalismo, eu já cheguei a ser bem cafajeste. Eu já transbordei de sentir, eu já não senti nada. Eu já fui amor, eu já fui babaca. Agora eu não sou nada. Vivo nessa busca incessante de saber o que sou e acabo sendo tudo. Ou acabo não sendo nada. Dividida entre o querer e o tentar, o fazer e o fracasso, me acomodo nos dias flamejantes que queimam minhas órbitas e eu já não enxergo nada. Nem sei se sabia o que ver, mas sei que ainda sigo uma direção, ainda que eu não saiba qual, ainda que eu não saiba onde ela dê. Porque a vida é assim, não é meus caros? Passamos ela inteira procurando saber o que fazer sem realmente fazer alguma coisa, ainda que achemos que estamos fazendo algo.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Arabella.

Minhas botas sujas de lama mancham calçadas por aí, minhas olheiras tapadas pelo primeiro rayban que eu encontro refletem as noites em claro que passo na boêmia dos bares da cidade. Toca um som dos anos setenta na jukebox de lugar nenhum e minha jaqueta de couro preto com meu jeans rasgado falam por mim. Corações e copos quebrados, o gosto de uísque se misturando ao batom borrado de qualquer moça bonita que se demonstre um pouco mais interessante das que costumo encontrar pelas ruas de nenhum lugar. O cigarro que está em minha boca marcha rumo a fuga da realidade de que preciso, uma pista de dança e a gente fica bem melhor por lá, eu quero tudo que as melhores fodas e amores podem me dar. Quero ficar na boêmia que escolhi viver então capote o camburão, despiste os caras de azul, beba até fazer o mundo girar e me faça acabar a noite no lado certo de uma cama errada e tudo fica bem. Deixo alguém pedindo por mais, me visto dos pés a cabeça e saio para nunca mais voltar. Caminho pelas ruas e abro a porta do primeiro bar da segunda esquina e grito:

- Mais um copo por favor!

Porque ta tudo bem começar tudo de novo.