segunda-feira, 6 de abril de 2015

Perdendo e encontrando isqueiros.

Eu vivo perdendo isqueiros assim como vivo perdendo oportunidades. Eu vivo perdendo coisas. Na verdade não sei se algum dia as tive de fato, mas o fato é que eu vivo perdendo coisas. Por mim, pelas pessoas, pela vida. Eu não aguento mais esse jogo de perder.

Tento ler um livro ou ver tv mas a necessidade me invade feito o ar que entra em meus pulmões e então eu preciso intoxicá-los com fumaça de tabaco. Sentir aquele êxtase amargo (que no fundo me faz mal, eu sei) tranqüilizando minhas veias. Me levanto abruptamente e coloco um jeans surrado, um casaco preto qualquer, pego as chaves e coloco meus cigarros no bolso do jeans. Vou atrás de outro isqueiro.
Choveu mais cedo e o céu se mistura em cinza e preto. Está anoitecendo e o vento frio corta minha pele através do casaco fino. Desço a esquina olhando ao redor pensando em como fui parar ali, como eu tinha me tornado aquilo em que me tornei: um fracasso, se. Eu tentei fazer tudo certo. Mas o que é o certo é o errado? Não sabia exatamente a resposta mas me lamentava de todas as formas: profissional, familiar e amorosamente. Não queria, mas as vezes acho que sou quase digna de pena.

Todos os bares  ao redor estão fechados e eu tenho que andar até o próximo quarteirão. Anoiteceu.

Acho que faz tempo que anoiteceu em mim também, não sei. Talvez eu seja um céu todo preto que, vezenquando, consegue obter algumas estrelas para iluminá-lo. Só não sei mais se consigo obtê-las novamente
Avisto ao longe uma banca de jornal quase fechando e compro meu bendito isqueiro. Caminho uns passos e já posso sentir as gotas da tempestade que está vindo aí de novo começarem a cair. Acendo meu cigarro e logo na primeira tragada é como se todos os ligamentos do meu corpo estivessem se acalmando numa paz explodida em milhões de pequenos pedaços de fogo. Começa a chover e ao invés de ir para casa, me pego perambulando pelo bairro. Avisto as casas trancadas, os estabelecimentos fechando, as ruas vazias, e penso que aquilo tudo se parece muito comigo: cheias de pessoas que nem ligam muito para elas durante o dia e completamente solitárias durante a noite (com a exceção de que eu acabo só até durante o dia). O temporal despenca e eu corro atrás de algo que possa me proteger, e percebo o quão inútil isso é, afinal, quem está na chuva é para se molhar. Não é o que dizem por aí?

Sento em uma escada na porta de um lugar qualquer e fico ali, fumando aquele único cigarro enquanto sinto o maço inteiro se desmanchar no meu bolso. Tirei o capuz da cabeça e fiquei ali pensando, até que por fim, chorei a dor que por muito tempo estava contida em mim. Deixei a água descer pelo meu rosto e logo pelo meu corpo misturando-se com minhas lágrimas, me encharcando por inteira.

Pensei na grande bosta que está minha vida e no quanto preciso mudar isso. E fiquei ali, não sei por quanto tempo, mas tempo suficiente para a chuva passar. Levantei decidida a me reinventar por completo. As coisas deveriam e tinham de mudar.
Eu vivo perdendo coisas, mas às vezes, a vida te faz achar coisas também e a certeza disso, é o isqueiro velho que achei no bolso do casaco preto no momento em que enfiei as minhas mãos lá. Ás vezes demora tempo demais para a gente entender as coisas em apenas um segundo, e eu entendi que eu preciso mudar pra viver em paz.

 Acendi meu novo isqueiro. Minha nova certeza.

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