sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Um Conto Sobre Marie.

Se você vivesse nos anos 70 caminharia feito uma bad girl de cinema porque é isso que você é, e com suas botas preta cano médio e sua calça, sua blusa e sua jaqueta de couro, tudo preto que é pra combinar com parte da sua alma, andaria até encontrar o próximo bar. Acenderia um cigarro que no canto da sua boca citaria vários poemas para as mais carentes almas. Você acharia e finalmente entraria no bar bem mais frequentado daquela cidade e pediria a dose mais forte de uísque que o lugar tiver, olharia o local metro por metro em busca de sua presa e não te importa se ela estará usando calças ou saias desde que você faça seu trabalho direito e tenha saído satisfeita. Você só quer dar e ter o prazer garantido, também não importa quantas camas virem furacões nem quantas tempestades num pingo d'água te façam por causa disso depois porque amanhã, você fará tudo de novo. Sempre amanhece e você sempre viaja com seu Cadillac preto para outro lugar, você só quer acordar no lado certo de qualquer cama errada. Você viaja milhas e milhas e conhece um novo e estiloso bar. Sua boca agora está encharcada de licor que escorrega e corre pelo vale entre teus seios e alguém por ali te mira. E te deseja. É bonitinho, você quer. Ele mexe em uma mecha de seus cabelos que vão até o fim de seu pescoço, ele sorri, quer te levar pra casa e ficar com você, está encantado. Ele quer construir família e apresentar para a mãe, quer casar com você. E você ri com desdém e acha graça do pobre coitado que acordará amanhã se perguntando aonde você está, por que não ficou com ele? O que ele tinha de errado? Nada. Até fodida bem, era cheiroso, tinha bom papo e era boa pinta mas você não se prende. Não é de nenhum lugar quem dirá de alguém. Você tem a liberdade de ser de todos que te quiserem, e que você quiser também. Mas você fica com ele e acontece o que você já previu. E aí você apenas veste sua roupa, compra um maço de cigarro novo e segue para a estrada sentindo o vento nos cabelos até a próxima parada que é um clube de blues ou bar rock'n'roll, vai ver são os dois. Você só entrou porque gostou do local. Sentou, chamou o garçom e agora sua boca tinha gosto de vinho. Do outro lado do salão uma moça lhe fita e ela daria tudo para experimentar tal gosto. O decote dela parece saltar em seus olhos e você a nota. Mais alguns passos e lá está você. Sentada ao seu lado, acendendo seu marlboro e contando casos de não-amores. Você ri das suas outras vítimas, faz delas uma piada para sua nova conquista que ri também sem saber que talvez ela será a próxima a entrar na história, porque é assim que você é: livre demais pra se prender. A moça no fundo sabe disso, ela conhece seu tipo mas é quase inevitável se manter longe do perigo que você é, então ela te leva para seu apartamento de solteira e lá vocês marcam a casa inteira. Um tempo depois estão suadas e ofegantes olhando pro teto, agora já na cama ambas pensando "uau". Vocês adormecem. O dia ainda nem amanheceu mas você desperta, o céu está escuro e as estrelas ainda brilham, deve ser cinco da manhã. Você olha a moça ressonar baixinho em seu ouvido deitada em seu ombro e pensa: "foi a melhor foda da minha vida"e cogita até ficar. Pensa uma, pensa duas, pensa três vezes como há muito tempo não pensou mas aí se lembra da promessa antiga que se fez: de sempre se colocar em primeiro lugar sem nunca deixar ninguém atrapalhar e se você não manter-se afastada de perigos como essa moça, você nunca mais vai conseguir isso. Então você a olha e sorri, dá um jeito de sair de seus braços, lhe dá um último beijo sem que ela acorde, se veste e finge esquecer sua jaqueta, sem deixar que a tal moça se quer imagine que você deixou mais do que isso por lá. Alguma parte sua ficou também. Você deixa um bilhete pedindo desculpas e promete voltar e talvez um dia você realmente volte. Quem sabe? Seu velho e bom carro à espera do lado de fora do portão do prédio e algumas horas depois lá estava você: em outro lugar, outro destino, tomando pílulas coloridas que te fazem suar e ver o mundo em cores intensas, você não se importa em viver uma vida louca agora. Você não se preocupa porque leva a vida que quer viver mesmo que às vezes e só às vezes, você queira trocar de lugar com alguém e não ser mais assim tão só.

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