quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

transmitindo a realidade.

Da varanda vinha um vento frio e devagar, ela levantou-se da frente de seu lap top em que havia passado o dia procurando emprego e debruçou-se na sacada. Acendeu seu velho marlboro vermelho e vestindo apenas um blusão branco com sua calcinha preferida, ficou passeando o cigarro por entre seus dedos.
Ela vivia em um apartamento pequeno alugado no centro da cidade, e sempre gostava de olhar a vista do centro a noite. Sem carros ou pessoas na rua, apenas o silêncio.
Ela não sabia o que esperar daquela noite e nem de nenhuma outra ultimamente. Ela, que sempre fez da noite a sua casa não sabia o que esperar dela. O vento lá fora açoitava as árvores e fazia de seus cabelos redemoinhos, mas o verdadeiro redemoinho acontecia em sua cabeça. Ela girava e girava e nada tinha haver com as mil doses de rum que antes havia tomado, não, era mais complexo que isso. Sua mente doía, centrifugava um turbilhão de coisas. Perguntas, sentimentos e sensações passeavam por ali misturando-se com a fumaça de seu cigarro subindo aos céus junto com o vento. Tudo era estranhamente muito novo e ao mesmo tempo velho demais para ela e ela tinha medo. Um medo enorme de fracassar., o que consequentemente à fazia a fracassar por nada fazer. Ela vivia com a ajuda dos pais, havia quase desistido de seus sonhos, mal conseguia pagar as contas e nada tinha. O medo lhe paralisava e a impulsionava a continuar no nada. Havia chegado uma hora em que ela não sabia se o cheiro de queimado que sentia, era de seus neurônios entrando em combustão de tanto pensar ou se era de seu cigarro que havia quase chegado ao fim e estava quase queimado seus dedos.
Nada estava fácil, mas quando se tratava dela nunca era, não é mesmo?
Sua pele branca começava a ficar fria e ela mal cogitava a ideia de sair dali. Mal trocava o peso dos pés de um para outro, só fumava. Um, dois, três cigarros. O gosto amargo impregnando sua boca, garganta, mente. O que será que estava havendo com ela? Ela se perguntava. Não obtinha resposta alguma. Ou várias, como: "estou ficando louca" e vai ver ela estava mesmo. Pensar demais acaba deixando a gente fora de si. E falando em pensar, esse era o momento em que ela começa a imaginar que se aquilo fosse um filme, chegaria alguém abraçando-a por trás e dizendo que tudo ficaria bem, fazendo-a acreditar nisso. Ou que da sacada, ela avistaria algo que lhe faria mudar sua vida, como em um clichê. Então riu com desdém negando com a cabeça: aquilo não era um filme, aquilo não era ficção, aquilo era a vida real. E a vida real batia em sua porta todo dia de manhã.
Pensou, repensou e desistiu. Concluiu que pensar demais só fazia ela pensar mais besteiras, dando esperanças as suas ilusões. Então deu meia volta e se jogou na cama com a garrafa de rum que estava na mesa perto da varanda. Bebeu mais uns goles, viu o teto do quarto girar e quis que o mundo parasse de correr tão depressa. Adormeceu.
Acordou com o sol entrando pela mini varanda e batendo em seu rosto. Já deviam ser meio-dia e ela estava atrasada para começar sua vida. De novo.

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