quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Um pouco mais de alguém.

A velha vitrola no canto da sala toca ecoando a voz inconfundível de Billie Holliday pela casa escura e eu me pego pensando em você. Me pergunto se algum dia você seria do tipo que dança blues de pijama e meais, arrastando os pés pelo assoalho ao lado de alguém, apenas apreciando os momentos simples que a vida dá sem se preocupar se aquela seria uma nova vítima dos seus desejos e anseios ou o amor da sua vida, que você nunca vai chegar a falar. Me pergunto se você seria capaz de aproveitar uma noite de luar, ótima música e uma boa companhia. Talvez. Às vezes acho você simples, um oito ou oitenta que poderia muito bem aproveitar esse tipo de coisa. Às vezes acho que você pensa demais.
Mas quer saber mesmo o que eu acho? Acho que você é uma viagem de estrada daquelas que a gente não pretendia fazer. Ou talvez sempre tenha pretendido. É daquele tipo de aventura que a gente sempre quis viver sem se importar muito com os ralados no joelho e o corte no supercílio, que podem ocorrer. Você também é daquele tipo de pessoa que a gente encontra na beira da estrada, que é sarcástica e tem a boca suja como você, e além de tudo ainda entende as suas piadas. Você é uma canção de indie da minha banda preferida, é o emaranhado no coração ou no corpo de muitos outros, é o paradoxo enigmático de uma viagem de estrada louca, é o solo de guitarra de uma música de blues - ou seria de rock? Ainda não sei a sua pegada. Tu és quem seduz sem perceber até que alguém diga "tire tudo de mim", e você tira. Ou tira o quer. É cabelos aos vento, - e não importa se sejam lisos ou encaracolados embora os lisos sempre fazem bater forte o coração - é jaqueta de couro com algum adesivo colado, produto de alguma festa em que você encheu a cara mesmo sem poder. Você é coleções de remédios e confusões de cabeça, é companhia cheia de solidões, é furacões na vida de alguém e é a própria tempestade também. Você não liga muito pra nada, até passar a ligar e querer fugir, correr, cometer os mesmo erros e acertos e voltar pra qualquer cama errada. Você faz a sua lei e é por isso que é sempre caçada pelos xerifes das cidades e camas que frequenta, porque você sabe: não tem graça ser fora da lei sozinho. Você é poesia, é boêmia que também tem dor, é algo gostoso quando se permite em meio a bebedeira chamar alguém de amor, é um abraço bom e apertado que quebra colunas, é sorriso mesmo quando diz que não acha graça nas piadas. É alguém que sabe ser extremamente leve mas que às vezes insiste em ser pesada, é gritaria e sussurro, é sacana e algumas vezes absurdo. Você é uma fã louca de Nietzsche que tem um lado doce que quase ninguém vê e um amargo que transborda, o que você não sabe é que eu só fumo por causa do gosto amargo que o cigarro deixa do meu paladar aos meus dedos. É por isso que a gente funciona bem, ou não funciona nada. A graça pra você é sempre descobrir. E pra mim também, a graça é se deixar levar pra saber aonde vamos parar.

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